Sonífera Ilha

O Brasil vive em duas ilhas ideológicas: esquerda e direita.

Em cada nova eleição, Lula e Bolsonaro protagonizam os apoios e a busca de apoio político nas cidades e principais capitais do país.

Ou um ou outro. Ou Bolsonaro ou Lula. Essa é a lógica do momento. Na verdade, a disputa é mais categórica e emblemática. Representa o rastilho político e escaldo de ambas as figuras políticas. Os apoios ou possíveis apoios de ambos, portanto, representam, hipoteticamente, a transferência automática de votos.

Será?

O jogo é extremo de qualquer lado e modo. Nele, existe apenas uma fronteira de percepção sobre a política, a vida e a realidade. Esse mesmo jogo parece existir desde o tempo da Guerra Fria e apenas duas visões de mundo – é um esquema meio borderline, no limite entre a razão e a loucura mesmo endossada por lideranças e seguidores.

Aparentemente, entretanto, está fora do jogo quem não pende o sentimento para nenhum extremo. Quem não pende nem para Lula, nem Bolso, nem para a esquerda, nem para a direita.

Ou seja, quem não escolhe lado ou corrente ideológica, está fora do tabuleiro da vida pública, política ou até mesmo como cidadão (ã).

Mas afinal, essa é a única e imponderável possibilidade de existir ou coexistir no espaço político?

De fato, é preciso refletir:

Qual é a verdadeira representatividade ou pretensa liberdade de expressão, ser, existir e ampliar o próprio universo político para outras visões de mundo, de ideias e premissas em uma vida líquida, passageira e repleta de vitrines sociais.

Com apenas duas visões políticas e de mundo, esquerda e direita, limitamos a essência explorativa do próprio ser humano, a capacidade em desvendar possibilidades, causar o paradoxo e o ativar o conceito antagônico, para, assim, criar novas sinapses, mapas e padrões mentais mais complexos, a favor da civilidade e mesmo da nossa evolução.

Por tudo isso, a política no Brasil hoje vive em duas ilhas de ilusões. Reside na fantasia entre esquerda e direita, mas esquece a pluralidade política, a democracia plena e saudável, com apenas dois únicos e restritos pensamentos.

Quem perde sempre são os eleitores, os sistemas, a diversidade do
jogo e o poder amplo de escolhas. Todos perdemos quando não abrimos espaço para outras vertentes e fundamentos para revigorar a própria estrutura política com mais variações e possibilidades.

Nesse esquivo cenário abissal, eleitores e políticos viram, então, reféns deles mesmos e do jogo em círculo estacionário, em uma mesma sonífera ilha de pensamentos, emoções e alternativas.

Até quando, enfim, dormiremos lisérgicos politicamente?

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