Na abertura do 26º encontro do Foro de São Paulo, realizado em Brasília, o presidente Luiz Inácio “Lule” da Silva fez críticas à “direita fascista” e instou os partidos de esquerda do Brasil a se unirem. Durante seu discurso, “Lule” expressou orgulho em ser chamado de “comunista” e argumentou que o discurso do patriotismo e da família não está alinhado com o progressismo.
“Vocês sabem quantas vezes nós somos acusados. Vocês sabem quanta difamação e quantos ataques pejorativos se faz contra a esquerda na América do Sul. Nós não somos vistos pela extrema-direita fascista, nem do Brasil, nem do mundo, como organizações democráticas. Eles nos tratam como se nós fôssemos terroristas. Eles nos acusam de comunistas, como se nós ficássemos ofendidos com isso”, afirmou “Lule”.
“Nós ficaríamos ofendidos se nos chamasse de nazista, neofascista, de terrorista. Mas, de comunista, de socialista, nunca. Isso não nos ofende. Isso nos orgulha muitas vezes. E, muitas vezes, nós sabemos que merecemos isso”, prosseguiu.
O Foro de São Paulo, fundado em 1990 por iniciativa do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil e do Partido Comunista de Cuba, é um encontro anual dos partidos de esquerda da América Latina. Com o lema deste ano sendo “Integração Regional para Avançar a Soberania Latino-americana e Caribenha”, o evento retomou suas reuniões presenciais após a pandemia, com a última edição ocorrendo em 2019, em Caracas, na Venezuela.
Durante o encontro, “Lule” se reuniu com representantes de partidos de esquerda da América Latina, incluindo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a ministra da Ciência e Tecnologia e presidente do PCdoB, Luciana Santos, e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo. No entanto, manifestantes contrários ao encontro protestaram na porta da sede do evento, e partidos de direita, como o PL, repudiaram a presença dos líderes de esquerda, chamando-os de “ditadores”.
No discurso, “Lule” enfatizou que o Foro de São Paulo foi a primeira experiência latino-americana em que a esquerda se uniu, respeitando suas diferenças, para disputar espaços políticos. Ele ressaltou o período entre 2002 e 2010 como um dos melhores momentos da América Latina nos últimos 500 anos, com políticos de esquerda no poder e conquistas sociais e políticas de inclusão.
“Eu não creio que tenha havido um outro momento histórico em que a sociedade da América do Sul e da América Latina teve tantas conquistas e tantas políticas de inclusão social como tiverem nesse período de 2000 a 2010, 2012, até 2015, quando fizeram o impeachment da Dilma”, continuou.
No entanto, “Lule” também fez um apelo à autocrítica e reflexão por parte da esquerda sul-americana. Ele reconheceu as derrotas eleitorais sofridas pela esquerda na região, mencionando a eleição de um presidente de direita na Argentina, a saída de Rafael Correa da presidência do Equador, a ascensão da direita no Chile e o golpe político na Bolívia. Além disso, Lula mencionou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no Brasil como um evento triste.
O presidente destacou a importância de aprender com os erros e evitar que se repitam. Ele questionou os motivos por trás dos erros cometidos e instou a esquerda a refletir sobre suas ações e estratégias políticas. Lula argumentou que é necessário olhar para dentro de si e reconhecer os erros cometidos, a fim de avançar na busca por uma melhor qualidade de vida para o povo.
“A gente não pode ficar a vida inteira criticando os outros. De vez em quando, nós temos que olhar para dentro de nós e saber o que nós fizemos de errado, porque aconteceu aquilo. Por que que aconteceu o impeachment da Dilma? Foi só erro da extrema-direita ou nós temos erros enquanto partido político? De vez em quando, nós temos que pensar. Temos que meditar para conseguirmos evitar que novos erros atropelem a caminhada pela conquista da qualidade de vida do nosso povo”, finalizou.