Lula reage com dureza ao tarifaço de Trump: “Chantagem inaceitável” e críticas a “traidores da pátria”

Em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na noite desta quinta-feira (17), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou como “chantagem inaceitável” a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, anunciada por meio de uma carta divulgada nas redes sociais do republicano, provocou uma escalada de tensão diplomática e reações duras do governo brasileiro.

“Esperávamos uma resposta [às tratativas diplomáticas], e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”, afirmou Lula.

Segundo o presidente, o Brasil realizou mais de dez reuniões com representantes do governo americano antes de ser surpreendido com o anúncio unilateral. Ele também acusou Trump de tentar interferir na Justiça brasileira — especialmente no julgamento de seu antecessor, Jair Bolsonaro, pelo STF sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

“No Brasil, respeitamos o devido processo legal. Tentar interferir no Judiciário é um grave atentado à soberania nacional”, afirmou Lula, em referência direta às declarações de Trump.

Críticas internas e acusação de traição

Lula também endereçou críticas a políticos brasileiros que têm apoiado as decisões do ex-presidente americano. Sem citar nomes, chamou de “traidores da pátria” os que, segundo ele, incentivam ataques ao país e apostam no “quanto pior, melhor”.

“Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria”, declarou.

Embora o presidente não tenha mencionado nomes, a crítica foi interpretada como um recado direto a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eduardo está nos Estados Unidos desde março, licenciado do mandato de deputado federal, e tem mantido contato com aliados de Trump. Segundo reportagens da imprensa americana, ele tenta articular sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Ataques ao Pix e ameaça às big techs

O presidente também defendeu o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central. Recentemente, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA, a pedido de Trump, abriu uma investigação sobre práticas brasileiras em “serviços digitais e meios de pagamento eletrônico” — sem mencionar diretamente o Pix.

“O Pix é um patrimônio do povo brasileiro. Não aceitaremos ataques a esse sistema, que é um dos mais avançados do mundo”, disse Lula.

Além disso, o presidente brasileiro ameaçou novamente impor taxações às big techs americanas — uma medida que, historicamente, desagrada Trump.

“Esse país é soberano. Vamos julgar e cobrar impostos das empresas americanas digitais”, afirmou em evento realizado em Goiânia.

Resposta americana e pressão empresarial

Em resposta às declarações de Lula, a porta-voz do governo Trump, Karoline Leavitt, negou qualquer tentativa de imperialismo por parte do presidente dos EUA. “Ele é o líder do mundo livre, não um imperador. E sua liderança tem provocado mudanças globais positivas”, disse.

A escalada de atritos preocupa empresários brasileiros, sobretudo da indústria e do agronegócio, que temem perdas bilionárias e o esfriamento das relações bilaterais. Representantes do setor relataram insegurança com a falta de um canal de negociação efetivo entre os governos.

O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), tenta mediar a crise e segue nesta sexta-feira (18) em reuniões com empresários para mapear os impactos do tarifaço. Nos bastidores, avalia-se que a retaliação americana é grave, mas que a resposta brasileira ainda carece de estratégia diplomática mais clara.

Bolsonaro tenta intervir

Enquanto o governo busca saídas, o ex-presidente Jair Bolsonaro se ofereceu como interlocutor com Trump.

“Se o Lula sinalizar para mim, eu negocio com o Trump”, disse Bolsonaro, mesmo sem ter prerrogativa oficial para isso.

A declaração foi recebida com ceticismo por integrantes do Itamaraty, que veem risco de aprofundamento da crise se a mediação ocorrer por vias paralelas.

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