Fux diverge da maioria do STF e considera “desproporcionais” medidas impostas a Bolsonaro

Foto: Andressa Anholete (STF)

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu voto divergente no julgamento da Primeira Turma que analisou as medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo o uso de tornozeleira eletrônica. Apesar do voto contrário, a maioria já estava formada a favor das medidas — com placar final de 4 votos a 1.

O julgamento, realizado em plenário virtual e encerrado às 23h59 desta segunda-feira (21), confirmou a decisão do relator, ministro Alexandre de Moraes, apoiado pelos colegas Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia. As medidas foram aplicadas no contexto da investigação que apura supostos crimes cometidos por Bolsonaro, como obstrução de Justiça, coação no curso do processo e ataque à soberania nacional.

Críticas de Fux à decisão

Em seu voto, Luiz Fux argumentou que as medidas restritivas aplicadas ao ex-presidente não apresentam fundamentação concreta suficiente no momento atual da investigação.

“Verifico que a amplitude das medidas impostas restringe desproporcionalmente direitos fundamentais, como a liberdade de ir e vir e a liberdade de expressão e comunicação, sem que tenha havido a demonstração contemporânea, concreta e individualizada dos requisitos que legalmente autorizariam a imposição dessas cautelares”, afirmou.

Para Fux, mesmo em casos de medidas alternativas à prisão, o Judiciário precisa demonstrar de forma clara a necessidade, adequação e proporcionalidade da decisão.

Investigação e busca na residência

A votação aconteceu após uma nova etapa da operação da Polícia Federal, autorizada na última sexta-feira (18) por Moraes. Os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão na residência de Bolsonaro e na sede do Partido Liberal, em Brasília. Foram apreendidos um celular, um pen drive e cerca de US$ 14 mil em espécie.

Segundo a PF, Bolsonaro é investigado por uma possível tentativa de minar a confiança nas instituições e incitar desrespeito às autoridades, o que poderia configurar atentado contra a soberania nacional.

Divergência isolada, mas simbólica

Apesar de o voto de Fux não alterar o resultado do julgamento, sua manifestação é simbólica e reforça o debate sobre os limites das medidas cautelares em processos envolvendo figuras públicas. A divergência também alimenta a narrativa da oposição, que tem acusado o STF de atuar com rigor excessivo contra o ex-presidente.

O julgamento, agora concluído, mantém todas as restrições em vigor, incluindo a proibição de uso das redes sociais, contato com outros investigados, retenção do passaporte e o uso da tornozeleira eletrônica.

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