Dalton Trevisan, “O Vampiro de Curitiba”, morre aos 99 anos

Curitiba perdeu nesta segunda-feira (9) um de seus maiores ícones culturais. Dalton Trevisan, o aclamado escritor paranaense conhecido como “O Vampiro de Curitiba”, faleceu aos 99 anos. A informação foi confirmada pela família em uma publicação nas redes sociais, onde homenagearam o autor com as palavras: “Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é.” A frase faz alusão ao apelido que marcou sua trajetória e à obra que o consagrou como uma figura central da literatura brasileira.

A Secretaria de Estado da Cultura do Paraná destacou a importância do escritor em nota oficial. “Dalton retratou com cruz a solidão, os dilemas morais e as contradições da classe média, com um olhar atento para os excluídos e marginalizados. Sua reclusão pública contrastava com a vivacidade de sua escrita, que permanece como um marco da literatura brasileira contemporânea”.

Trajetória e Legado

Dalton Trevisan nasceu em Curitiba, em 1925, e formou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Durante sete anos, exerceu a advocacia, mas foi na literatura que encontrou sua verdadeira vocação. Em 1945, estreou com Sonata ao Luar , uma obra que mais tarde renegaria por considerá-la imatura. O reconhecimento nacional veio em 1959, com Novelas Nada Exemplares , obra que lhe rendeu o primeiro de seus quatro Prêmios Jabuti.

Trevisan consolidou sua carreira com uma prosa marcada pela concisão, ironia e pela habilidade de capturar a complexidade das relações humanas em cenários urbanos. Em 1965, lançou O Vampiro de Curitiba , que se tornou seu trabalho mais emblemático. Com uma escrita ácida e cortante, ele expôs dilemas morais, solidões e contradições da sociedade curitibana e brasileira, ampliando seu impacto para além das fronteiras regionais.

Reconhecido como um dos maiores escritores brasileiros, Trevisan recebeu prêmios importantes ao longo de sua trajetória. Em 2012, foi agraciado com o Prêmio Camões, a maior honraria concedida aos autores de língua portuguesa, além do Prêmio Machado de Assis, conferido pela Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra. Entre seus outros prêmios estão o Troféu APCA e o Portugal Telecom de Literatura.

O Recluso que Deixou Marcas Profundas

Embora tenha sido amplamente reunido, Dalton Trevisan optou por uma vida de reclusão. Desde 1972, quando concedeu sua última entrevista, evitou aparições públicas e contatos com a imprensa, criando uma aura de mistério que só aumentou o fascínio em torno de sua figura. Esse isolamento contrasta fortemente com a intensidade de sua obra, que abordou de forma implacável os desafios e as contradições da condição humana.

Além de O Vampiro de Curitiba , destacam-se em sua vasta obra títulos como Cemitério de Elefantes , A Guerra Conjugal e A Polaquinha . Suas histórias permaneceram entre as mais lidas, estudadas e admiradas na literatura brasileira, sendo reconhecidas tanto por sua profundidade quanto por sua capacidade de provocar reflexões sobre a sociedade.

Um Legado Eterno

Dalton Trevisan deixa um legado inestimável. Mais do que o “vampiro” que imortalizou, ele foi um cronista que capturou com maestria as nuances da alma curitibana e brasileira. Sua obra, marcada pelo rigor estético e pela capacidade de revelar as fragilidades humanas, continuará a inspirar leitores e escritores por gerações.

Facebook
WhatsApp
Telegram