COLUNA SEMANAL DE OGIER BUCHI PARA O JORNAL IMPACTO PARANÁ E PARA O PORTAL POLÍTICA PR – 22/03/2024
A cada dia que passa esta pergunta fica mais e mais relevante, e confesso mais difícil de responder. E por que? Exatamente porque a condução dos destinos deste gigantesco país está atrelada a uma conduta política que se submete a pauta pessoal de políticos que vivem uma disputa que não tem vínculo com o futuro de cada um dos brasileiros.
Explico: tanto Lulle quanto Bolsonaro já tiveram seu período de governo e nesta etapa Lulle tem a responsabilidade de condução do futuro nas suas mãos ainda uma vez.
Ocorre que nesta etapa o Presidente é vinculado de forma aparentemente indissociável a um passado que é recente, mas que tem que ser encerrado. O fato é que Bolsonaro está fora do poder.
E o outro fato é que Lulle não abandona a vinculação com o passado, porque esta é uma forma hábil de justificar o injustificável; que sem embargo é o fato de que ele não governa de fato!
O DESGOVERNO
Na medida em que Lulle não governa de fato, vivemos um tempo estranho de divisão de poder sem a prática da democracia, visto que cada poder toma seu naco na valentona, na base da demonstração de força, o que sem embargo gera a confusão e o desgoverno em que vivemos. Assim, o Judiciário Supremo produz legislação ao invés de aplicá-la, o Legislativo não produz legislação – e quando produz, o faz consubstanciado tão somente nos interesses atrelados às “emendas”, de sorte que este imenso e produtivo País avança muito menos que poderia avançar em função do visível descompromisso dos homens públicos, todos eles pagos pelo laborioso povo produtivo da pátria.
O MEME
Durante todo o governo de Bolsonaro, um meme tornou-se clássico nas redes sociais: os usuários mais alinhados à esquerda, ao criticarem o ex-Presidente de forma virulenta e serem lembrados dos (des)feitos dos governos petistas, limitavam o debate à apresentação de um pequeno quadro da série da TV japonesa da série Kamen Rider Den-O, em que um personagem chega em uma espécie de bar, e incluída a legenda “E o PT, hein? E o Lula?”.
O tempo passou, Lulle foi eleito… e desde 2023 não para de falar em Bolsonaro; seja para ataca-lo politicamente, seja para justificar a falta de projetos efetivos em favor da população; a estagnação econômica, o aumento dos produtos da cesta básica, a gana arrecadadora do Estado – tudo isso enquanto faz um tour romântico ao redor do mundo com aquela que é por ele chamada de “farol”. Quando não cita nominalmente o ex-Presidente, o faz de forma quase adolescente, mandando indiretas ao referir-se à “destruição do país”, aos “ataques à democracia”, sobre a situação dos presentes recebidos por Bolsonaro. Quando não é Lulle, são pessoas de seu entorno. Acho que agora já é possível atualizar o meme!
E OS MÓVEIS, HEIN?
Seguindo na mesma linha do meme, cabe aqui a pergunta ao atual mandatário do país e sua patroa: e os móveis, hein? Cabe aqui fazer um breve retrospecto ao leitor, dos fatos relevantes sobre o truque de mágica dos móveis.
E OS MÓVEIS – A RETROSPECTIVA
Ao falar sobre a mobília do Palácio do Planalto, no início de janeiro de 2023, Lulle e Janja deram a entender que vários móveis haviam sido levados por Bolsonaro. Em 12/01/2023, Lulle disse em discurso a jornalistas que eles precisariam “ajudar a reinvindicar o direito de eu morar”, pois o Palácio não estaria em condições de recepcioná-lo para lá residir, e que estaria morando em um hotel – às expensas do povo brasileiro, por óbvio. Textualmente, Lulle disse: “O quarto que tinha cama, já não tinha mais cama, já estava totalmente… eu não sei como é que fizeram. Não sei porque que fizeram. Não sei se eram coisas particulares do casal, mas levaram tudo”.
A patroa Janja, que se sente sub-presidente do país, nem bem deixou as malas na área do Palácio em 2023, e já convocou a Rede Globo para um tour pelo local, para mostrar a necessidade “urgente” de reforma do local.
Com isso, uma cama de R$ 42.000,00 foi comprada às pressas para o ninho de amor presidencial, sem licitação, sem pesquisa prévia, sem transparência dos parâmetros mínimos utilizados para a escolha e compra do referido móvel.
E OS MÓVEIS FORAM ENCONTRADOS!
E não é que encontraram os móveis? Exatamente no local em que a Sra. Michele Bolsonaro disse que o mobiliário havia sido deixado! Engraçado que todos os itens foram localizados em setembro de 2023, mas se a Folha de São Paulo não tivesse ido atrás para saber o que havia acontecido, dificilmente o povo brasileiro saberia do fato – afinal, não corrobora a narrativa construída pelo clã que agora está no poder.
Sobre o fato noticiado inicialmente pela Folha de São Paulo, seguido por demais órgãos de imprensa, nem uma linha no perfil mantido no Twitter/X de Janja, que até sobre o BBB lá opina. Nas redes sociais de Lulle, o silêncio sobre o fato também foi adotado. A cada dia que passa, se percebe a despreocupação do casal que tem a responsabilidade de se comunicar com o país com a realidade.
A dissociação entre o establishment de Lulle e Janja com as suas responsabilidades, em especial a atenção à verdade dos fatos, demonstra que a cartilha do populismo é recitada sem qualquer preocupação com a realidade do dia a dia do povo brasileiro.
O reflexo está nas pesquisas de opinião pública, posto que, o povo pode não achar do outro lado a sua melhor inspiração. Todavia, não há como abrir mão da responsabilidade que um presidente deve ter, no modelo presidencialista.
Seja por fatos menores e comezinhos como este, seja pela maior envergadura das posições de Lulle, o irretorquível é que por “n” motivos que volta e meia abordo, ele encolheu, ele diminuiu.
TRANSPARÊNCIA
Como disse antes, a justificativa apresentada para a compra dos móveis sem licitação era a urgência, para que o Presidente e sua esposa pudessem residir no Palácio do Planalto. Entendo que o casal necessitasse de uma cama para lá descansar – o que não entendo, é a ausência de explicações para gastar R$ 42.000,00 em uma cama e R$ 65.000,00 em um sofá.
Ainda que se tratem de figuras relevantes para o Estado brasileiro, quais parâmetros foram utilizados para que a escolha dos móveis recaísse sobre, por exemplo, uma cama king size revestida em couro grão natural e pés em metal, de uma loja de decorações em Brasília?
A Secom limitou-se, na época, a informar aos órgãos de imprensa que a aquisição se deveu “ao estado em que foi encontrada a mobília do palácio” – estado esse que, curiosamente, somente a Rede Globo e a Globonews tiveram acesso, já que a Folha de São Paulo também requisitou o acesso e lhe fora negado.
O silêncio nas redes sociais do casal presidencial sobre a situação envolvendo os móveis do Palácio do Planalto apenas reforça a falta de transparência que vemos no atual governo, em muitas situações.
As despesas no cartão corporativo, por exemplo, estão sob sigilo até o final do mandato de Lulle. Também foram agraciados com sigilo a agenda da primeira-dama Janja; comunicações diplomáticas sobre o ex-jogador Robinho; e, curiosamente – mas nem tanto – a lista dos militares do Batalhão de Guarda Presidencial que estavam de plantão durante o ataque à Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.
Por óbvio que se não é razoável exigir-se que o Governo divulgue sem nenhum critério toda e qualquer informação solicitada, inclusive que possam levar à violação da intimidade dos envolvidos ou causar risco à ordem nacional. Mas daí a defender que “a sociedade não tem que saber como é que vota um ministro da Suprema Corte”, como Lula fez ao discorrer sobre a possibilidade de voto secreto pelo STF, vai uma distância gigantesca.
Saber como vota um Ministro em tema desta envergadura e sobretudo albergar a Democracia!
PARADOXAL
No subjacente de todos nós, permanece o sentimento que vem desde nossa formação, de que normalmente os mais velhos têm uma credibilidade inerente às suas cãs. Todavia, existem pessoas cuja velhice lhes traz desgaste moral exatamente porque imaginam que demonstrar qualidades juvenis pode proporcionar a elas maior credibilidade.
Na questão pública, não funciona assim. Erra de forma incompreensível o marqueteiro – ou os marqueteiros – de Lulle. O certo é que um homem de quase 80 anos, de limitada cultura, precisa aos olhos do seu julgador, a saber, o povo governado por ele, parecer minimamente sábio. Esta patuscada de inventar uma imagem do Lulle atlético é de uma infelicidade atroz. Convenhamos, para o povo pouco interessa saber se o presidente corre na rua ou corre de alguém na rua. Ao povo, interessa que um homem de quase 80 anos se mostre digno de que nele se deposite um sentimento de confiança e/ou de credibilidade, especialmente seu vetusto já bateu caneca na grade.
No meu entendimento, o erro de marketing é absurdo, porque se a população quisesse um jovem na Presidência, optaria por um ator da Globo, ou um coach da moda.
REGIONAIS
- Sem dúvida a pesquisa recente mostra que o Governador do Paraná tem a absoluta aprovação da cidadania paranaense! Auguri
- O mesmo pode ser dito do Prefeito de Curitiba já em fim de mandato, mas em alta em relação a população curitibana. Há que cumprimentar!
- A Assembleia vive um paradoxo. Um bom momento em relação ao seu desempenho como um todo. Todavia, a questão pessoal que envolve o presidente da instituição é assas desconfortável. Ignorar olimpicamente como faz a grande maioria não é suficiente. O correto é tratar do tema e tomar posição clara. O apoio ao atual Presidente é óbvio. Portanto, o logico é patentear a posição e desde logo marcar a nova eleição, que ocorrerá em final de 2024. E seguir o jogo!
ORACÃO DE OGIER BUCHI
Senhor, nada de novo sobre o Lulle? Amém.